domingo, 2 de agosto de 2015

Cantares de chuva e vento

Na minha aldeia costumo abraçar a chuva
Sempre que o céu é baço tenho o brilho das pérolas
Antes fulgurante era o Ser em sentido lato
Quando podia alcançar suas constelações de dentro

Ando em portas candentes, esguias na curvatura
Das ladeiras esquecidas de amor e fartas de pés
Minha aldeia é o mundo e eu, muda, ainda percebo
Parcas belezas de vidro que guardo para enfeitar os peixes

Na nossa aldeia morta a chuva de pedras d'água
É cortina que só abre com a ponta e o meio dos dedos
Cada gota cadente desse tecido sagrado
É alegria das plantas e das crianças pequenas

Na minha aldeia tem vezes que eu sou a Própria
Água elemental que afoga e germina a vida
Lavo as roupas da casa, a fachada das igrejas
Turvo o fundo de areia. Sou do céu quando me (in)vento