Hoje olhei pelo buraco de uma fechadura. Ela vivia procurando lugares para mudar. Ela havia posicionado seus vultos estrategicamente frente ao que podemos ver. Lá fora notícias do Ebola em Serra Leoa, relógios de corda, o negro do carpete, a conta de luz, o telefonema dos bancos, currículos, vitórias-régias de plástico, balas não deflagradas, bandeiras, todas as coisas inúteis de uma sociedade de bichos. Todos sabem que uma fresta de vida em festa não é exatamente uma vida. Todos sabem que existem fendas mais densas que as de metal. Todos procuram porta-retratos para presentear o ego e soltam pum chamado flatulência para amainar o impacto. Resta conhecer o caos dos 3x4, resta cortar o coração para ao menos ver que há sangue, resta retirar a assepsia do sexo, reorganizar tabus na prateleira. Eu poderia te ligar para trocar as chaves. Considero que me machucar faz parte do primeiro contato com a floresta. Todos sabem que uma fresta de vida em festa não é exatamente uma vida. Todos sabem dos recortes. Gastei um dia da minha vida riscando fósforos e descobri o quanto simbolizam. Todos sabem das nuvens inquietas e mesmo os jardineiros possuem monstros mitológicos. Há intensa vida subaquática. Portanto, só me interessam relações existenciais de fato. Cativar para que se não for para ordenar o caos? Todos sabem que copos plásticos são inúteis porque tocar um corpo é uma coisa muito sagrada. Devo decretar extensos rituais a partir de agora, não quero mais tomar uma cerveja com gosto de sexo e acordar para a realidade das coisas da vida. Ela parece tão interessante aqui da fechadura. Mistério saber onde larguei a chave.
Desengavetas
quarta-feira, 21 de outubro de 2015
domingo, 2 de agosto de 2015
Cantares de chuva e vento
Na minha aldeia costumo abraçar a chuva
Sempre que o céu é baço tenho o brilho das
pérolas
Antes fulgurante era o Ser em sentido lato
Quando podia alcançar suas constelações de dentro
Ando em portas candentes, esguias na curvatura
Das ladeiras esquecidas de amor e fartas de pés
Minha aldeia é o mundo e eu, muda, ainda percebo
Parcas belezas de vidro que guardo para enfeitar os peixes
Na nossa aldeia morta a chuva de pedras d'água
É cortina que só abre com a ponta e o meio dos dedos
Cada gota cadente desse tecido sagrado
É alegria das plantas e das crianças pequenas
Na minha aldeia tem vezes que eu sou a Própria
Água elemental que afoga e germina a vida
Lavo as roupas da casa, a fachada das igrejas
Turvo o fundo de areia. Sou do céu quando me (in)vento.
Antes fulgurante era o Ser em sentido lato
Quando podia alcançar suas constelações de dentro
Ando em portas candentes, esguias na curvatura
Das ladeiras esquecidas de amor e fartas de pés
Minha aldeia é o mundo e eu, muda, ainda percebo
Parcas belezas de vidro que guardo para enfeitar os peixes
Na nossa aldeia morta a chuva de pedras d'água
É cortina que só abre com a ponta e o meio dos dedos
Cada gota cadente desse tecido sagrado
É alegria das plantas e das crianças pequenas
Na minha aldeia tem vezes que eu sou a Própria
Água elemental que afoga e germina a vida
Lavo as roupas da casa, a fachada das igrejas
Turvo o fundo de areia. Sou do céu quando me (in)vento.
quinta-feira, 25 de junho de 2015
Traduttore
I
Pena que te assustes com poemas
Poemas assombram porque denotam
O que de eterno há nas inconstâncias
O que nos fere é leve e não queremos
Perpetuar com o peso de uma pedra
Talvez fujas de mim porque somente
Podemos interpretar nossas pegadas
Pisando falso porque num corpo novo
Tudo é apenas estranhamento
O problema é que o estranhamento todo
Nasce de saber que tocar um outro
Não é uma pedra que se toca, um musgo
Que se arranca do muro com a unha
e pronto
É tocar um caminho, uma trajetória
É tocar num ponto
o universo inteiro
Gracias a la vida porque naquela noite
Topei fronteiras com os teus ossos.
terça-feira, 23 de junho de 2015
Verona
Meu coração está limpo,
Capinado
Meu coração bate certo
Vacinado
Minha intenção altaneira
Lançou o anátema
Desalojou o amor
Nesta prece alvissareira
Bebo o suco da videira
Para brindar o mistério
Meu coração latino
Nesse poema ladino
Não entende Shakespeare
Atirou na cotovia
Meu coração, quem diria!
Acha Julieta chata
A musa é morta
O poema é vivo
Meu coração está pronto.
terça-feira, 26 de maio de 2015
Cinza
Um frio passa pela porta
Vem. dos corredores da cidade
Tubos de ar carregado
Pó. que cria crises alérgicas
Causa, além da tosse,
Medo. do destino da humanidade
Medo de fecharem toda cor
E apagarem o céu
Há milhares
Milhões de portas
Semiabertas
Abertas
Escancaradas
Em milhares
[Não milhões] de casas
Há livros mastigando histórias silenciosas
Que valerá a produção do homem e da mulher?
Ou do ser sem binarismos?
Sacar a humanidade da beira do abismo
É tirar-lhe a voz e o sentido da condição
Pois na angústia nos prendemos
Sim, nos balançamos
É, a angustia dá vertigem
Mas distrai.
Dúvida
Seus olhos me causam impacto profundo
Deveria te agradecer porque agora
Me aprofundei em algo na vida?
Deveria te agradecer porque agora
Me aprofundei em algo na vida?
sexta-feira, 22 de maio de 2015
Bicicleta
Sempre
foi difícil cochilar
Os
obuses são lançados
A
cada vez que piscamos os olhos
Eles
são lançados
Enquanto
o ósculo santo
É
ofertado nas madrugadas
Por
discípulos de Madame Satã
Sempre
foi difícil andar no átrio
De
pedra ou de carne, é difícil
Existir
e encarar os nossos ossos
Armados
como as constelações
Eu
sei que corremos de facas
Como
os peixes correm de focas
No
gelo ártico polar e tudo isso
É
uma luta pela sobrevivência
Uma
luta entre aqueles que não
São
considerados da mesma espécie
Essas
guerras que nos separam
Batalhas
sangrentas de dentro
Nos
fazem esquecer que sangramos
Como
galinhas em bacias de metal.
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