terça-feira, 26 de maio de 2015

Cinza


Um frio passa pela porta
Vem. dos corredores da cidade
Tubos de ar carregado
Pó. que cria crises alérgicas

Causa, além da tosse,
Medo. do destino da humanidade
Medo de fecharem toda cor
E apagarem o céu

Há milhares
Milhões de portas
Semiabertas
Abertas
Escancaradas

Em milhares
[Não milhões] de casas
Há livros mastigando histórias silenciosas

Que valerá a produção do homem e da mulher?
Ou do ser sem binarismos?
Sacar a humanidade da beira do abismo
É tirar-lhe a voz e o sentido da condição

Pois na angústia nos prendemos
Sim, nos balançamos
É, a angustia dá vertigem

Mas distrai.

Dúvida

Seus olhos me causam impacto profundo
Deveria te agradecer porque agora
Me aprofundei  em algo na vida?

sexta-feira, 22 de maio de 2015

Bicicleta

Sempre foi difícil cochilar
Os obuses são lançados
A cada vez que piscamos os olhos
Eles são lançados
Enquanto o ósculo santo
É ofertado nas madrugadas
Por discípulos de Madame Satã

Sempre foi difícil andar no átrio
De pedra ou de carne, é difícil
Existir e encarar os nossos ossos
Armados como as constelações

Eu sei que corremos de facas
Como os peixes correm de focas
No gelo ártico polar e tudo isso
É uma luta pela sobrevivência
Uma luta entre aqueles que não
São considerados da mesma espécie
Essas guerras que nos separam
Batalhas sangrentas de dentro
Nos fazem esquecer que sangramos
Como galinhas em bacias de metal.




Iraque


Se pudesse voltar ao prato
Sua brancura de louça, 
                                       desenhos
Que remetem subúrbios próximos
A memória do afeto, da nossa casa

Se eu pudesse colar o prato!

Se eu pudesse através do tempo
Cingir o prato no espaço, antes
Que o rompante que abrolha sei-lá-de-onde
O fizesse de novo concha no pretérito piso
Eu não saberia dizer se o prato
Quebrado nos dias de fúria me seria tão útil
Quanto os cacos, brancuras que cortam
Meus pulsos.            Ou seriam os pés?

Mais um dia tu me convidaste
Para conhecer meus abismos, 
                                                 lembras?
Amásia do caos desses planetas
Fiquei pairando no absurdo...

Tu tens horas que tão calmo!
És uma força da natureza?
A ira que envenena nossas veias
Exala no tempo uma loucura má

Esse outro lado, o avesso da ternura
Tive que virar a casaca para vestir
A alma de noite e descobrir contigo
Milhares de escalas de dor

Breu que eu usava para as mãos
Agora uso para cobrir o dorso
O breu não pode colar o prato
Prática de inventar mosaicos
Pratico jogos de arremesso.